mercoledì 13 maggio 2015

PEGASUS INTERNATIONAL – (Língua portuguesa)




Começa, com este número, a secção lusófona do site Pegasus SF International.
O objectivo da iniciativa é difundir e publicar textos de género ficção científica, fantástico, mistério, nos seus idiomas originais. STEFANO VALENTE é o responsável pela secção da língua portuguesa.
Os contos têm de ser não muito compridos, e também as "míni-antologias" de micro-ficção podem ser admitidas (vejam-se os contos publicados).
Os autores não perdem os direitos dos seus textos e aceitam que os seus contos possam ser traduzidos em outros idiomas para a publicação em Pegasus SF.
Para quem se interessar em participar nesta iniciativa:
Enviar os textos ao correio eletrónico: stef.valente@tiscali.it
É preferível não enviar mais que dois ou três contos - ou micro-antologias - por mês.
 JOSÉ EDUARDO LOPES (Portugal)
(des) arrazoado
Os universos paralelos tocam-se amiúde, acariciam-se, trocam coisas, beijos, objetos, emoções, lugares e visões.
Deve existir um universo paralelo com um planeta como o nosso onde os habitantes sejam apenas mulheres, leves como o ar, que se passeiam sobre as nuvens com mantos brilhantes, as mesmas que inspiraram as visões de Atena, Pachamamma, e da Nossa Senhora.
Noutro, só há animais híbridos e bizarros, que aparecem ao artista que compõe a sua iluminura, ou ao escultor de gárgulas. Diz-se que Bosch, o holandês, conseguira estar junto de alguns desses animais, e que possuía na cara um lanho provocado pela unha dum grifo.
Muitas vezes, alcança-se um outro universo ao cruzar um pórtico transdimensional ou ao subir uma escada sem fim que surge suspensa dum buraco nos céus ou, por fim, por formas mais comuns, como a vulva. É tido como certo que a vulva pode transportar um homem a um universo distinto.
A teoria dos universos paralelos pode também explicar a existência dos alegados sósias, duplicados ou almas-gémeas; uma pessoa como nós que vive num universo semelhante ao nosso, mas diferente e semelhante por serem um negativo nosso – de nós e do nosso universo - um gémeo especular simétrico. Isso dá-me que pensar. Não sei se o meu sósia vive e trabalha enquanto eu durmo, mas estou certo de que ele tem tudo o que me falta deste lado: as riquezas, a felicidade e a paz. Cabrão do sósia!
JOSÉ EDUARDO LOPES (Portugal)
Cinco amigos
Todos os anos, à mesma hora do mesmo dia do mês, quatro pessoas reúnem-se na casa dum amigo falecido para evocar a sua morte. Não trazem nenhum médium, cartas, espelhos, incenso. Cada um deles traz apenas um objeto singelo; montando os quatro objetos obtém-se uma arma, um revólver, a arma com que o mataram. É só isso que eles fazem. Montam a arma, olham-se numa comunicação sem palavras e voltam a desmontá-la, para cada um regressar a casa com a sua parte, e com a certeza de que o segredo se mantém completo e intacto.
 ANGELA SCHNOOR (Brasil)
Atmosfera
 Acabara de assistir um filme de suspense e sabia que teria dificuldade para dormir sozinha naquela noite. Já andava bastante impressionada e medrosa, mas não imaginava que o filme fosse ser forte e nem que estivesse tão sensível. Não era tarde e estava perto de casa. Apressou o passo e pareceu ouvir alguém também apressado em seu encalço. -Tolice, pensou, estou me deixando levar pelo medo.
Quando percebeu estava quase correndo, contando o tempo que faltava para chegar. Os passos continuavam a bater sobre a calçada até que virou a esquina e achou que o som havia se distanciado. Estava a poucos metros até a entrada do prédio quando tropeçou e torceu o pé. Mesmo com dor, continuou rápida e voltou a ouvir alguém bem próximo. O pânico já tomava conta dela quando sentiu um toque sobre seu ombro. Desmaiou e bateu com a cabeça no chão sem ver o rapaz que, gentilmente, tentava lhe entregar os documentos esquecidos na cadeira do cinema.
ANGELA SCHNOOR (Brasil)
Engano de porta
Em uma manhã encontrou o primeiro bilhete na caixa do correio.
Letras bem feitas e impessoais diziam: - Não tardo. E assim foram os demais: - estou chegando, me aguarde, logo estarei aqui...
Intrigada, passava os dias tensa, esperando, sentindo-se ameaçada. Já não dormia nem saía de casa.
Aos trinta dias, seu único vizinho faleceu após chegar aquele que seria o último recado: - Eu avisei!
O jovem viveu alegre enquanto ela, entregue ao medo, desperdiçava um mês de sua vida.
ANGELA SCHNOOR (Brasil)
A solidão e o vazio
Nas panelas, comida feita para dois. Toda noite, após ter jantado, arrumava a mesa com cuidado. Servia o prato ao centro e se recolhia ao sono. Pela manhã, o prato vazio era lavado e a mesa desfeita.
 AMERICO AYALA Jr. (Brasil)
Despedida
Onze mil, duzentos e trinta e quatro dias depois, contados com religiosa paciência – e olhando rapidamente o relógio acrescentou, mentalmente – “duas horas e quinze minutos”, ele a reencontra.  Da última vez  lembra que,  indo-se, seu cabelo negro e longo era suavemente  revolto por um vento de primavera , perfumado pelas flores do parque onde ela, decidida, encerrou tudo.
Respondeu  calado ao seu adeus. Não se despediu dela.
Ele nunca mais esqueceria aquele aroma. Muito menos dela. Muito menos dela que,  por duas eternidades, ocupará cada minuto de seu tempo.
Hoje, sua beleza madura  lhe dava uma aparência encantadoramente jovem. Ao sorriso  só conseguiu responder com duas quase-lágrimas que ficaram ali, paradas no canto dos olhos, equilibrando-se...
 Momentos depois de cair,  apoiado no colo ofegante dela, duas lágrimas rolaram finalmente no seu rosto antigo, no exato instante em que seu coração, explodindo, finalmente se despedia dela.



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